domingo, 9 de outubro de 2011

O Casal Diferente


Conheço um casal que está dando o que falar entre a galera. Ela está beirando os quarenta anos de idade e ele tem pouco mais de vinte. Ela é uma mulher, e pra quem acredita que o tempo é cronológico e linear, ele é um menino. Protagonizam um encontro cujo desencontro soma dezessete anos de diferença, mas ainda assim se adoram. Quem os conhece e se comove com o drama e a comédia das peripécias desse amor, já nem nota o disparate e está até fazendo torcida. E, realmente, eles são lindos e engraçados: pressionados pelo preconceito, vivem tentando se separar; sufocados pela saudade, estão sempre juntos.
Imaginem vocês que um dia, após vários meses de tórrida união, resolveram que deviam se separar:
- Não adianta, a sociedade não vai nos aceitar nunca.
- Você já tem muitas coisas e eu estou só começando, nada posso lhe oferecer.
- Ainda não tenho rugas, mas elas vão aparecer.
- Eu vou ficar cada vez mais velha e você cada dia mais lindo.
Eles tentaram. Não conseguiram, porém. Teimosos, marcaram a despedida para o dia seguinte: com almoço e tudo o que os apaixonados têm de direito. Afinal, um grande amor devia terminar em grande estilo.
- É melhor assim, mas por favor não fica com outro perto de mim.
- Não, nunca. Nem você...
- Nunca!
- Você promete que não vai chorar?
- Não vou chorar. E você?
- Nem eu.
- Até... seja feliz.
Duas semanas e, na madrugada, lá estava ele na janela dela: embriagado de desejo. Tímidos olhares trocados, mãos disfarçadas roçando os cabelos.
- Eu estava passando por aqui...
- Sim...
- Vamos tomar um café?
- Sim...
- Até...
Semana seguinte e lá estava ela na casa dele: escancarando a campainha, esbravejando contra a distância. E, sem pudor, se amaram.
Mas eles precisavam manter a palavra: definitivamente, agora é fim!
Ela (linda, ainda), bem rápido ajeitou novo romance. Ele, a cada dia trocava de par. É imprescindível esquecer, diziam.
Mas chegou o Natal e, bons amigos que pretendiam ser, encontraram-se para a troca de cartões. Um beijo de leve, a saudade pesada. Romperam as escadas e, sem pudor, mais uma vez se amaram.
Aniversário dele: com amor, ela foi o presente.
Aniversário dela: com ardor, ele foi o presente.
Alguém ouviu falar em pudor?
Pudor, segundo o Aurélio: “sentimento de vergonha, de mal-estar, gerado pelo que pode ferir a decência”. Decência: não quero nem ver o que significa, deve ser tudo o que está de acordo com a moral e os bons costumes de uma sociedade. Homem mais velho com mulher mais jovem? Correto. Mulher mais velha com homem mais novo? Nem pensar, indecente! É evidente que ela só persiste nessa loucura porque tem a ilusão de que, ao lado dele, pode manter a juventude, ignorar o tempo. Ele só está com ela porque ela representa a mãe protetora, acolhedora e provedora da qual ele não quer se desvincular. Tudo tem uma explicação coerente e só ela deve ser considerada, alardeiam os sapientes.
Mas outro dia vi a Suzana (maravilhosa) Vieira, que aliás é casada com um homem muito mais jovem do que ela (só por que ela é rica e famosa, pode?), dizendo que o amor não se explica. Ela sabe que não perdemos a mania de tudo explicar.
E quem pode afirmar com convicção que não é amor esse desejo que mantém o vai-e-vem desses dois de quem falo? O que mais é o amor senão a alegria e a harmonia que os impede de concretizar a separação? Chega de explicação. Mais amor e menos pavor!
Penso que desperdiçamos muito tempo nos preocupando – antecipando sofrimento – e nos esquecemos de nos ocupar com a vida: sentir a delícia do instante presente.
Pensar no futuro é importante, sim. Mas o que é o futuro senão a certeza de que é incerto? Para o amanhã só vale o aforismo socrático: “morte certa, hora incerta”.
Assim, se a dor é inevitável, que ela só doa quando chegar. Se hoje é amor, por que não amar?

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