quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sobre a Felicidade



Num desses dias de insuportável calor, quando até pensar se torna fatigante e o desejo iminente é encontrar um refresco qualquer que amenize o tédio, estava perambulando pela casa com meus botões.
Atraída pela voz sorridente de minha irmã, entrei no quarto onde ela e o seu bebê trocavam gracejos, risos e gritinhos, deitadas uma ao lado da outra na cama. Parei diante delas como quem para diante do nada, absorvida apenas pela vontade de encontrar um assunto interessante sobre o qual escrever. Entre uma graça e outra, sem nem mesmo olhar ao redor, ela me perguntou o que se passava comigo.
“Não sei sobre o que escrever hoje”, respondi-lhe.
“Ah... fala da beleza da Gabriela!”, imediatamente ela me sugeriu.
Sorri e olhei para o delicado mimo. Fiquei extasiada mais uma vez e sempre. Não, não poderia jamais descrever a beleza da Gabriela. A perfeição personificada no rosto meigo de alguém estava além de minha capacidade discursiva. Qualquer palavra dita soaria medíocre e vaga demais. Aquele encanto, só admirar conseguiria. A beleza é como o amor: pura emoção. Assunto reservado aos poetas, pensei.
Mas, como um ímã, aquela cena de comunicação afetuosa entre mãe e filha, tão próxima e integrada como se uma fosse o apêndice indispensável da outra, fixou-se em meus pensamentos e me levou a vislumbrar o futuro da Gabriela.
Filha de pais abastados, com certeza os bens materiais necessários para sua sobrevivência estariam todos garantidos. E quanto à sua felicidade? A Gabriela seria feliz quando crescesse? Tomara. A ela também não faltam dedicação, carinho, afeto e amor de todos que a rodeiam e, especialmente, de sua mãe. Ótimo. Mas quais outros ingredientes seriam necessários para fazer dela uma mulher capaz de ir em busca de sua particular, única e inalienável felicidade?
Ah... seria tão bom se existisse uma receita que, seguida passo a passo, indicasse-nos como tornar nossos filhos felizes. Como a daquele bolo que me fez experimentar um momento de glória assim que abri o forno: no ponto!
Felicidade deve ser isso mesmo: estar no ponto como um bolo fofo, gostoso e quentinho saído do forno. O que basta, o suficiente para o momento
E então? Onde está a receita de felicidade de nossos filhos, perguntam-nos mães e pais aflitos, bem-intencionados e sinceros (e nem pensem que estou sendo irônica, pois faço parte desse grupo).
Não tem receita. Pronto e ponto.
Existem sonhos, entretanto. Nosso imaginário está repleto deles. Principalmente aqueles que não conseguimos realizar e, numa atitude aparentemente despretensiosa e inocente, colocamos na estrada e nos ombros (e nas costas, nos braços, nas mãos, nas pernas, nos pés) de nossos filhos, para que eles realizem por nós. E como pesam esses sonhos... Indefeso, o ser alado é castrado pelo peso dos sonhos dos pais amados. Prisioneiro, o anjo já não pode mais voar. Suas potencialidades não se desenvolvem e os caminhos se misturam e se confundem. Confuso, ele não encontra a saída.
Uma frase do filme “Estamos todos bem”, do diretor Tornatori (o mesmo de Cinema Paradiso), talvez resuma com sabedoria essa problemática: “nunca crie seu filho para que ele seja alguma coisa na vida. Crie-o para que seja qualquer coisa na vida”. Isso nada mais significa do que permitir que nossos filhos escrevam a própria história. Eles escrevem a deles e nós escrevemos a nossa. Cada qual no seu tempo e espaço convenientes. Nós apenas abrimos a janela, mostramos-lhes o horizonte e lhes entregamos os pincéis e as tintas. Eles matizam o universo e nós admiramos o colorido.
E viva a beleza da Gabriela!

Elvira Tomazin

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Meu voto para a Dilma.

De Elvira Tomazin, psicóloga.


Resolvi escrever aos meus amigos para lhes dizer que o meu voto para presidente do Brasil será para a Dilma Rousseff. Quero lhes falar dos motivos dessa escolha. Leiam-me, não custa.
Nunca fui petista, nunca votei no Lula, não nessa vida. Mas, sendo leitora assídua e interessada pelos rumos do meu país, com o passar do tempo comecei a nutrir uma certa simpatia pelo nosso presidente. Fala a verdade, são poucas as pessoas que têm um carisma tão envolvente e que conquistam pela espontaneidade. Como disse o Obama, “ele é o cara!”. 
Igual a todos que possuem uma crença de muitos anos e se agarram a ela com unhas e dentes, custei a reconhecer que nosso presidente tinha valor e que, de fato, era o principal responsável pelas mudanças positivas que ocorriam em nosso país.
Aos poucos comecei a acompanhar mais de perto tudo o que se passava entre nós, agora com olhos mais críticos e menos intransigentes. Passei a investigar, a ler e a perguntar para pessoas que lidam com números, se era verdade o que as pesquisas diziam, ou seja, que o Brasil está rumando para se tornar um país de primeiro mundo. Sim, é verdade, os pobres já não são tão pobres, o bolsa família deu honra para quem, de tão miserável, nem conseguia se reconhecer como gente, o povo agora tem trabalho. Quem quer trabalhar, arruma emprego, é só procurar um pouquinho. Isso não é pouco, isso tem nome: chama-se DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA! E nem sempre foi assim. Quem tem mais ou menos minha idade, sabe muito bem do que estou falando. Isso aqui já foi o caos, taxa de desemprego beirando as alturas, gente batendo de porta em porta com currículo nas mãos e voltando pra casa desiludido e sem esperança.
Vou resumir de agora em diante, mas tenho mais mil e uma razões para votar na Dilma, e expô-las aqui tomaria mais umas mil e uma páginas. Vamos para o essencial, o público e notório. Se quiserem mais detalhes, venham debater comigo, será um prazer.
Como psicóloga de um Posto de Saúde da Família, atendo homens e mulheres que sofrem na alma, talvez por amarem demais e perderem a esperança antes da hora. Com o passar do tempo, com um pouco das minhas palavras e com o muito da força que é deles mas que, momentaneamente, desconhecem em si mesmos, eles aprendem a lidar com as dificuldades de maneira mais leve. Aprendo muito com meus pacientes. E foram eles que me confirmaram que o dia a dia das pessoas mais humildes mudou para melhor nos anos do governo Lula. Quem poderia esperar que agora eles estão comprando carro, fazendo cruzeiro marítimo e começando uma faculdade? Sim, muitos de meus pacientes compraram o primeiro carro da vida. Uma outra está indecisa entre um e outro emprego. Um outro casou os dois filhos e deu festa de arromba. E está todo mundo sonhando com a viagem de avião que nunca fez na vida. Quem diria: se antes o sonho do pobre era ver geladeira cheia, agora falam em viajar de avião! Isso não é maravilhoso? Esse é o Brasil de hoje, não é à toa que vez ou outra temos congestionamentos nos aeroportos.
Tudo bem, sei que nem tudo está uma maravilha pra todo mundo. Mas, também não está tão ruim. Quem quer e vai à luta, hoje tem como melhorar a vida. Na minha opinião, só reclama quem se acomodou e está sem coragem de arregaçar as mangas. Os ventos indicam que os céus permitem novos voos, basta um pouco de ousadia.
Por essas e por outras, eu voto Dilma. Eu olho pra essa mulher dentuça e com cara de brava e concordo com que o Chico Buarque disse sobre ela: “Dilma não tem medo de nada”. Ela não vai se curvar a interesses mesquinhos e egoístas e conduzirá nosso país ao lugar de destaque que seu povo merece, que todos nós merecemos e ansiamos. Ela dará continuidade a um governo que está dando certo, e o que mudar, de agora em diante, vai ser pra melhor. Acredito fortemente nisso.
Quando Lula venceu as eleições pela primeira vez, dizia-se que a esperança vencera o medo. Sim, a esperança do pobre por dias melhores deu um voto a Lula e ele soube nos honrar com competência e humildade. Agora, com a Dilma, diz-se que é hora de a verdade vencer a mentira. A vitória dela significará o triunfo da verdade sobre as maledicências que nunca saíram de sua boca.

Elvira Tomazin, psicóloga.